terça-feira, 12 de junho de 2012


Muito prazer

Francine Figueiredo

Muito prazer em conhecê-lo. Não sei seu nome, mas, dia sim, dia não, encontro com você em “flashes” do passado, em uma boca que não beijo mais, nos olhos e nos braços musculosos do professor de ioga, no bom caráter do ex-colega de faculdade que se formou um semestre depois da turma porque queria fazer a monografia final quando não era obrigatória, na inteligência do aluno de Direito que fez mestrado nos Estados Unidos e resolveu voltar para ser professor na Universidade em que estudou, no bom humor e na sensibilidade do namorado de adolescência, na alegria e simpatia do colega de trabalho que sempre chega sorrindo, nos cabelos e na voz doce e eloquente do professor de literatura...
Não sei se você é de outro planeta, se já viveu um romance comigo em vidas passadas, se ainda não nasceu, se mora em outra cidade ou outro país. Vejo-o no meio de tantos homens e, ao mesmo tempo, você não é nenhum deles. Se, por um lado, sinto-me ainda um fruto verde, insegura e despreparada para a vida, por outro, vejo-me madura o suficiente para tentar não errar de novo. Pelo menos, não cometer os mesmos erros. Prefiro observar porque a razão é meu esteio agora.
Ando solta, meio sem regras, sem rotina certa. Na verdade, não quero saber das regras que costumo inventar para mim mesma. Tenho me aborrecido com cobranças e horários. Não quero me exigir nada, nem me julgar, nem pensar no que eu tenho que fazer. Mas, lá no fundo, sei que vai chegar uma hora em que não poderei fugir. Você vai chegar com suas verdades e sentirei vontade de buscá-las dentro das minhas. Essas verdades nos guiarão no meu e no seu deserto. Lugar em que poderemos estar juntos sem deixar de ser quem somos; confiar no outro de olhos bem abertos; ser cúmplices de nossos crimes públicos e secretos.
Não quero ter que imaginar quem você é porque teria que mergulhar de novo no abismo da minha alma e me deparar com criaturas feias e belas. Por isso digo apenas: “Nice to meet you” ou “Mucho gusto” porque, por ora, me contento em olhá-lo nos olhos de todos sem saber qual é a cor dos seus, em tentar lembrar de um cheiro que se pareça com o seu, em não me permitir ser tocada por ninguém porque quero suas mãos. Por ora me basto, por ora estou apaixonada por mim. Estou vivendo um grande caso de amor comigo mesma.
Talvez um dia você bata à minha porta, ou eu bata à sua. Talvez nos encontremos na rua, em uma praça, em uma festa. Neste dia, quem sabe, eu estarei pronta para as minhas verdades, para as suas verdades. E, quem sabe, possamos criar juntos a nossa verdade.

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