“E
o tempo se rói com inveja de mim,
me
vigia querendo aprender
como
eu morro de amor pra tentar reviver
No
fundo é uma eterna criança
que
não soube amadurecer
Eu
posso, ele não vai poder me esquecer”
“Resposta
ao tempo” por Nana Caymmi.
Hoje
senti muita falta das nossas conversas. Fazia tempo que não pensava
em você. Quando nos reencontramos, não imaginava quantos
sentimentos antigos voltariam a emergir de águas tão profundas e já
esquecidas. Na verdade, hoje me dou conta de que não foram
esquecidas, mas apenas guardadas numa caixa colorida que guardei no
fundo do armário das minhas memórias. Nessa caixa, depositei
lembranças alegres de uma adolescência conturbada. E você está em
boa parte delas.
Senti
falta porque, outra dia, falei sobre nós a uma grande amiga que não
te conhece e nem sabia da nossa história. Eu voltei a uma estrada
abandonada e aproveitei para capinar o mato, podar as árvores e
admirar as flores que plantei ali. Cheguei a pensar que não tinham
vingado. Qual não foi minha surpresa ao vê-las íntegras e belas!
Será que elas ainda nos esperam? Eu percorri esse caminho certa de
que estava apenas folheando as páginas do álbum de fotografias da
minha vida. Quando percebi, estava novamente pensando em você e no
quanto eu gostaria que estivéssemos juntos e pudéssemos viver o que
não foi possível ser vivido.
Pensei
no quanto eu gostaria de ir ao teatro com você, de ouvir Zizi,
Vinícius, Caetano, Chico ou qualquer outra música de nossos
arquivos pessoais. Essa é uma doce lembrança que tenho de nossas
tardes de namorados. Eu te apresentaria músicas que você não
conhece, como você fazia comigo. Poderíamos assistir a um filme de
Bergman ou um “blockbuster” qualquer e passar a noite inteira
filosofando sobre a vida, a morte, o amor, a família e tudo mais.
Hoje você seria também meu “co-piloto”, mas eu continuaria
sendo sua “co-piloto”.
A
menina de dezesseis anos ainda está aqui comigo. Ela ainda quer
viver um amor. A mulher de trinta e sete quer um amor que a respeite
e a aceite como ela é. Sinto que entre nós há um espaço não
preenchido. Uma sensação de que o que podia ser não foi. A dura
realidade do seu compromisso. A certeza de que há alguma razão para
não estarmos juntos. Mas é impossível não imaginar como seria nós
hoje, vinte anos depois.
Pensei
em propor amizade. Pensei em deixar uma mensagem pedindo para que
retomássemos, pelo menos, nossas conversas. Fiquei com medo de
incomodar e não respeitar seu espaço, nossa decisão de nos
mantermos distantes. Decidi escrever uma carta aberta. Pode ser que
você a leia e, com certeza, se isso acontecer, você se reconhecerá.
Outros a lerão e, certamente, ficarão curiosos para saber a quem me
refiro. Mas eu prometo que não direi. É esse o nosso segredo que
nos une hoje de alguma forma. Quero cultivar esse vínculo como uma
plantinha que germinou há pouco e, aos poucos, cresce, devagarinho.
Talvez
tudo isso seja uma fantasia que alimento para não deixar a amargura
tomar conta de mim ou para não me sentir oca por dentro. Foi fácil
me acostumar a ficar sozinha e me assusto quando percebo que estou
gostando de ser uma mulher livre e só. Hoje fiquei o dia inteiro em
casa sozinha. Falei com algumas pessoas pela internet, mas agora à
noite, fiquei a conversar com meus pensamentos e a investigar meus
sentimentos. Daí veio esta carta aberta a mais que um conhecido. Um
grande amigo que eu gostaria que voltasse a ser meu namorado.