segunda-feira, 4 de junho de 2012

Escrevi esta crônica um pouco antes de Ingrid Betancourt, ex-senadora colombiana sequestrada pelas FARC, ser libertada. Na época, eu era casada com um colombiano naturalizado brasileiro, que vive aqui no País há mais de trinta anos, e fazia pouco tempo que havíamos ido à Colômbia para que eu conhecesse toda a família dele. Tive a oportunidade de conhecer de perto, não só a alegria, os costumes e o jeito de viver dos colombianos "costeños", que vivem no ou perto do litoral, como ouvir e ler as histórias sobre o conflito entre traficantes, guerrilha, paramilitares, governo e população. Este texto nasceu depois que assisti a uma peça de teatro encenada, no Centro Cultural do Banco do Brasil-Brasília, pela atriz colombiana, radicada no Brasil, Carolina Virguez. Puedo afirmar seguramente que la historia de los colombianos no solo ha atravesado mi vida sino también hace parte de ella.

Colombia, tierra querida”

Francine Figueiredo

 
Um cômodo pequeno, sem janela; paredes cobertas de lodo e enegrecidas pela umidade; uma mesa de madeira quadrada e uma cadeira; um buraco no teto por onde os raios de sol se atrevem a iluminar a escuridão da selva; uma portinhola que se abre do chão com um pouco de comida, água e jornais velhos; em um canto da parede, recortes de fotos e notícias, antigas e novas.
Uma mulher que lutou, diariamente, para sobreviver a seis longos anos de cárcere. Uma mulher que retornou às suas origens para tentar sentir toda a dor e a agonia de um coração enfurecido e acorrentado. Duas mulheres unidas pelo amor ao seu país, pela crença sincera de que precisavam fazer a sua parte.
Em algum lugar no meio da Amazônia colombiana, ainda ressoa a “cumbia”, que embalou a dança solitária de Ingrid no cativeiro. A mente libertária que governa o corpo raquítico, enfraquecido e doente, mas vivo. O coração atordoado e dolorido, mas pulsante. “Soy colombiana”. Por trás de cada gesto, de cada palavra pronunciada por Carolina/Ingrid, o apelo da Colômbia pela paz.
Carolina Virguez, atriz colombiana radicada no Brasil, não é apenas a voz de Ingrid Betancourt, que atravessou a floresta e rompeu fronteiras; mas também a voz que clama pela liberdade roubada em nome de um ideário perdido, o corpo e a mente que agora tentam traduzir a realidade nua e crua dos cativeiros revolucionários colombianos.
Quem nunca teve sua vida sequestrada jamais conseguirá sentir ou sequer imaginar todas as dores que Ingrid sentiu. Mas é impossível não admirar a força e o amor de Ingrid pela Colômbia. E quem tiver a oportunidade de olhar um pouco mais de perto, verá que os colombianos são assim: fortes, destemidos, guerreiros. E, sobretudo, amam intensamente sua pátria.
Tierra querida”: frase da “cumbia” que Ingrid ouvia e dançava no cativeiro. “Tierra querida”: o país de Ingrid, de Carolina, dos colombianos sequestrados, revolucionários, paramilitares, traficantes, e dos colombianos comuns, que querem paz para ouvir suas músicas, dançar e beber muito rum nas “parrandas” que insistem em anoitecer e amanhecer nos lares “de los “pueblos”, nas ruas movimentadas de Bogotá e Medellín, nas praias do Caribe Colombiano, no carnaval de Barranquilla...

 

2 comentários:

  1. Lindo texto, Francine!
    Retratou com uma riqueza bacana o sentimento de impotência que sentimos ao nos vermos amarradas, presas e/ ou sequestradas de nossas vidas, anseios, desejos e sonhos.
    Mas persistir e seguir é o que há!
    Parabéns pela sensibilidade, pela capacidade de captar o Ser Humano!
    Bezo, bezo

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    1. Obrigada, Clarinha, pelo comentário. Tê-la como minha leitora é uma honra! Bj. grande.

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