sexta-feira, 11 de janeiro de 2013

Carta aberta a um conhecido



E o tempo se rói com inveja de mim,
me vigia querendo aprender
como eu morro de amor pra tentar reviver
No fundo é uma eterna criança
que não soube amadurecer
Eu posso, ele não vai poder me esquecer”
Resposta ao tempo” por Nana Caymmi.


Hoje senti muita falta das nossas conversas. Fazia tempo que não pensava em você. Quando nos reencontramos, não imaginava quantos sentimentos antigos voltariam a emergir de águas tão profundas e já esquecidas. Na verdade, hoje me dou conta de que não foram esquecidas, mas apenas guardadas numa caixa colorida que guardei no fundo do armário das minhas memórias. Nessa caixa, depositei lembranças alegres de uma adolescência conturbada. E você está em boa parte delas.
Senti falta porque, outra dia, falei sobre nós a uma grande amiga que não te conhece e nem sabia da nossa história. Eu voltei a uma estrada abandonada e aproveitei para capinar o mato, podar as árvores e admirar as flores que plantei ali. Cheguei a pensar que não tinham vingado. Qual não foi minha surpresa ao vê-las íntegras e belas! Será que elas ainda nos esperam? Eu percorri esse caminho certa de que estava apenas folheando as páginas do álbum de fotografias da minha vida. Quando percebi, estava novamente pensando em você e no quanto eu gostaria que estivéssemos juntos e pudéssemos viver o que não foi possível ser vivido.
Pensei no quanto eu gostaria de ir ao teatro com você, de ouvir Zizi, Vinícius, Caetano, Chico ou qualquer outra música de nossos arquivos pessoais. Essa é uma doce lembrança que tenho de nossas tardes de namorados. Eu te apresentaria músicas que você não conhece, como você fazia comigo. Poderíamos assistir a um filme de Bergman ou um “blockbuster” qualquer e passar a noite inteira filosofando sobre a vida, a morte, o amor, a família e tudo mais. Hoje você seria também meu “co-piloto”, mas eu continuaria sendo sua “co-piloto”.
A menina de dezesseis anos ainda está aqui comigo. Ela ainda quer viver um amor. A mulher de trinta e sete quer um amor que a respeite e a aceite como ela é. Sinto que entre nós há um espaço não preenchido. Uma sensação de que o que podia ser não foi. A dura realidade do seu compromisso. A certeza de que há alguma razão para não estarmos juntos. Mas é impossível não imaginar como seria nós hoje, vinte anos depois.
Pensei em propor amizade. Pensei em deixar uma mensagem pedindo para que retomássemos, pelo menos, nossas conversas. Fiquei com medo de incomodar e não respeitar seu espaço, nossa decisão de nos mantermos distantes. Decidi escrever uma carta aberta. Pode ser que você a leia e, com certeza, se isso acontecer, você se reconhecerá. Outros a lerão e, certamente, ficarão curiosos para saber a quem me refiro. Mas eu prometo que não direi. É esse o nosso segredo que nos une hoje de alguma forma. Quero cultivar esse vínculo como uma plantinha que germinou há pouco e, aos poucos, cresce, devagarinho.
Talvez tudo isso seja uma fantasia que alimento para não deixar a amargura tomar conta de mim ou para não me sentir oca por dentro. Foi fácil me acostumar a ficar sozinha e me assusto quando percebo que estou gostando de ser uma mulher livre e só. Hoje fiquei o dia inteiro em casa sozinha. Falei com algumas pessoas pela internet, mas agora à noite, fiquei a conversar com meus pensamentos e a investigar meus sentimentos. Daí veio esta carta aberta a mais que um conhecido. Um grande amigo que eu gostaria que voltasse a ser meu namorado.


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