domingo, 11 de novembro de 2012

Depois de um longo silêncio, estou de volta. Hoje compartilho com vocês um texto fruto dos meus eternos questionamentos. Espero que gostem.


De olhos, caminhos e outras essências

O essencial é invisível aos olhos.”
Antoine de Saint-Exupéry

O que é essencial para você? Ser feliz, viver um grande amor, tocar violão? Passar num concurso público, ter filhos, uma casa confortável num bairro luxuoso? Ou na favela? Andar descalço pela grama, estudar inglês, escrever um livro, compor uma música? Trocar de carro todo ano, viajar para Paris ou para Jericoacoara? Escrever uma tese, morar em casas separadas, fazer sexo com amor ou sem amor? Brincar na rua, nadar no rio, montar um quebra-cabeça? Assaltar um banco, matar um inimigo, perdoar o amigo? Participar de um “reality show”, ser ator de teatro? De televisão? De cinema? Ou todos juntos?
São tantas as possibilidades, são tantos os caminhos e dentro deles tantas direções... É difícil saber. O ser humano quer muitas coisas, mas nem sabe o que vai ali, dentro dele. A gente tem olhos para ver tudo o que o mundo nos oferece, mas não tem olhos para ver o que vai dentro de nós mesmos. Não temos olhos para a essência. Mas o que é essencial? O que é essência? Será vontade de viver, de continuar apesar de todas as dificuldades? Será aquele “eu” mais profundo que sequer temos noção de quem seja? Será o divino, a consciência, a alma?
A verdade é que vamos nos perdendo no caminho porque nos distraímos com tantas belezas e opções. E com feiúras também. Quem nunca estabeleceu uma meta, lutou para alcançá-la e, no final, conseguiu, mas acabou experimentando o sabor amargo da frustração de comer um doce estragado? E o que diríamos do menino da periferia que sempre sonhou ter aquele relógio, aquela calça de marca, aquele carro importado que desfila imponente e charmoso na televisão de sua casa e acabou na prisão por ser pobre, mas gostar de “coisa boa”?
Os olhos materiais não conseguem ver no escuro e podem escurecer na velhice. Esses olhos podem ainda nascer escuros, mas o cego aprenderá a viver sem eles, apesar deles. Os olhos imateriais, no entanto, sempre nascem escuros e vão se abrindo, muito lentamente, para um mundo embaçado, nada óbvio, repleto de labirintos e corredores estreitos que nos levam a algum lugar, mas, geralmente, não sabemos qual. Muitas vezes, os olhos imateriais se fecham completamente e se fingem cegos porque a dor de enxergar é grande. Muitas vezes, eles se acreditam cegos e usam uma bengala para caminhar pela vida, deixando o tempo passar.
Os olhos materiais não podem ver o essencial, mas os imateriais têm o dom intrínseco de visualizá-lo em toda a sua plenitude, mas não o fazem por medo, orgulho, preguiça, tédio. Enxergar o essencial requer treino, persistência, coragem e firmeza, porque nem sempre o que encontramos dentro de nós tem perfume colorido, gosto aveludado e textura melodiosa.
O que é essencial? É difícil saber, embora eu me pergunte isso quase todos os dias. Encontro respostas temporárias e incompletas. Sei que, no passado, aquilo que eu considerava fundamental já perdeu seu valor. A manhã de hoje não trará as mesmas esperanças que a de amanhã. O sol vai nascer de novo e, com ele, novos olhos vão se abrir para vida e para o mundo, novos anseios se misturarão com antigos sonhos não realizados. Traços marcados no papel darão lugar a outros que nascem durante as madrugadas em que meus olhos materiais se fecham para que os imateriais enxerguem mundos nunca antes visitados ou revisitados cada vez que o essencial quer gritar para ser ouvido, visto, sentido e saboreado.


Nenhum comentário:

Postar um comentário